terça-feira, 19 de outubro de 2010

Devaneio no Aeroporto de Brasília

Não se sabia mais quando sairia o voo. A neblina encobria o aeroporto de Curitiba e o caos aéreo estava instaurado. Do saguão ensolarado do aeroporto de Brasília observava voos que levantavam e desciam, nenhum de Porto Alegre. Chegara cedo ao aeroporto, e como bom gaúcho, mau acostumado com mulheres lindas em todos os lugares, pensou “por que não no aeroporto?”. Pequeno detalhe: estava em Brasília.

O atraso do voo começava a incomodar cada vez mais a medida que aquela gente feia passava por ele. Até que passou aquela loira, linda, curvas dignas da estrada pela qual se sobe a serra. Infelizmente não significou nada. Logo atrás veio aquela tia, gorda, com grande parte do cofrinho aparecendo e a outra parte (mais as pernas) amassadas cheia de celulite em uma calça apertada.

Que desespero. Os aviões contentavam-se em ficar lá fora. Olhou mais uma vez o monitor: Porto Alegre ainda atrasado, sem previsão de partida. Foi tomar uma cerveja.

- Quanto é a Skol?

- R$ 4,50.

Olhou a carteira: uma nota de cinco, uma camisinha já com jeito de velha e um extrato da conta bancária assinalando que não se podia gastar dinheiro. Ainda mais cinco reais em uma cerveja.

Passaram mais algumas mulheres horríveis antes que ele decidisse sair. Ia beber, definitivamente. Saiu do aeroporto, foi a um mercadinho deplorável que havia ali por perto. Escolheu a pior cachaça (no calor!). R$ 5,50. Foi até o balcão

-Tenho R$ 5,00 e uma camisinha velha.

Levou a cachaça. Voltou ao aeroporto. Nada ainda. Dirigiu-se a área onde era permitido fumar, acendeu um cigarro e abriu aquela cachaça terrível. Aquela loira passou de novo, e agora já semi-bêbado abriu um sorriso. O aeroporto de Curitiba ainda fechado, a cachaça aberta e só mulheres feias. Era o quadro da dor na moldura do desespero. Bebia.

Quando a cachaça acabou, começaram a passar só mulheres lindas, todas lhe sorriam e ele sorria de volta.

-Agora que tá tudo ótimo vai liberar o aeroporto, quer ver?-

Foi. A moça simpática do alto-falante anunciou: aeroporto de Curitiba reaberto. Olhou no monitor, Porto Alegre com previsão de saída dali a duas horas.

Dinheiro não havia mais, as mulheres voltavam a ser feias e a camisinha tinha ficado com o dono do mercadinho. Uma tristeza só. Sentou num banco na área de fumantes, ligou o notebook, procurou uma rede e nada. E vocês acabaram de ler o resultado de tudo isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário