Minha dor é sempre formal
apresenta-se, explica suas razões,
justifica-se pedante, me deixando
de mão atadas, e sem sequer
a possibilidade de abrir os pulsos.
Então abro a cabeça, nego
essa racionalidade irrefutável
de quem sabe a que veio
e não abre mão, de acabar
com os sorrisos injustificáveis.
Ponho minha venda, meu analgésico
meu fones de ouvido de ausência
e assim não vejo nem escuto,
de bom grado, o escândalo da dor.
Só quem me protege fielmente
nessa guerra insuportavelmente real
são meus arcanjos esquecidos tortos:
o álcool, o silêncio e a escuridão.
Por isso só e sem nenhuma fé,
bebo o ouro que opõe a carne
toco a sinfonia que opõe o nada
e escuto o cinza que se espalha;
Ainda assim fraquejo sobre meus pés
enquanto tremo em frio ensolarado.
Não suporto a pesada leveza triste
de ser só mais uma existência falha.
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